segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Ecologia & Psicologia: Ecopsicologia

Em seu livro, "Wel Mind, Well Earth" o psicólogo e ecologista Michael J. Cohen afirma que o mundo natural é 'uma outra civilização como a nossa', que ‘cada um de nós é parte da civilizada e sempre mutante perfeição da natureza', e ressalta que, pessoalmente, socialmente e ambientalmente, grande parte de nossos problemas resultam de diferenças entre o processo que o ambiente natural e nós usamos para construir nossas relações. Nossa lógica enfatiza educar para pensarmos e relacionarmo-nos através do uso da linguagem - palavras abstratas, símbolos e imagens - enquanto que o mundo natural alcança sua perfeição através da atração de energias, uma comunicação não lingüística. Esta diferença é o que nos desconecta das tendências naturais, tanto dentro de nós, como ao nosso redor. Isso nos impede de desfrutarmos da sabedoria, equilíbrio e paz inerentes na natureza.


Nós nunca iremos ensinar o mundo natural a falar português e assim nos revelar seus segredos. A fim de aprender como a natureza funciona, Cohen desenvolveu técnicas não-verbais e sensoriais de conexão com a vida natural.


Através da estimulação do pensamento crítico durante visitas a áreas naturais, seu método educacional capacita os visitantes à consciente e sensorialmente, reconectarem sua natureza interna ao mundo natural. Esta conexão permite à auto-organizável e regenerativa civilização natural funcionar dentro e entre indivíduos de qualquer idade, revertendo assim quadros de apatia, disfunções e dependências, motivando e direcionando de maneira responsável o gerenciamento do estresse e da auto-estima.


Não é um grande mistério a coerente integridade entre a natureza e nós mesmos. Como parte da malha da vida, nós, seres humanos, herdamos também esta integridade de forma congênita. Ela é nossa ‘natureza interior’, uma 'planta' compartilhada globalmente a que chamamos de 'a criança dentro de nós'. O verdadeiro segredo está em aprender a ler esta planta, analisá-la, reconectar-se a ela, validando sua integridade ao invés de aprender a vencê-la, como geralmente o fazemos. Ler a planta interior é uma possível definição para educação: 'Trazer de dentro para fora.' Esta leitura nos conecta com nossa origem mais comum e essencial, abrindo caminho para uma experiência de recomeço, para a criação conjunta de uma sociedade verdadeiramente civilizada, ao invés de tornar-nos ainda mais 'confusos', ou seja, descompassados em relação ao ritmo de toda a natureza.


A fim de promover experiências de reconexão entre a espécie humana e a vida natural, o departamento de 'ecopsicologia' da World Peace University apresentou um conjunto de atividades e ferramentas, que nasceram de experiências com algumas inquietações do homem contemporâneo, como a apatia, o estresse, a depressão e outras situações de desconforto psicológico.


Michael J. Cohen afirma que após muitos anos ensinando e vivendo na natureza acredita que educação responsável e aconselhamento podem ser melhor entendidos em termos de aprendizado multisensorial, e que todas as experiências consistem em sentir ou ressentir (rememorar) no momento presente sensações de atração natural, e seus graus de integração, cumprimento ou frustração. O aprendizado por livros se vale de quatro sentidos naturais: visão, linguagem, raciocínio e consciência. Entretanto, o mundo natural raramente alcança sua beleza e equilíbrio pelo uso de somente quatro sentidos, muito menos o faz através de livros, linguagem ou "tecno-logia", isto é, "pensamento lógico que cria técnicas e histórias artificiais". Em contra partida, o mundo natural funciona em termos "bio-lógicos". Biológico consiste em ser multisensorial, seguindo a atração natural de cada momento, que em nós aparecem por mais de 53 sentimentos e sensações naturais. Nossos sentimentos e sensações naturais são sinais muito antigos de memória, evoluídos globalmente. Uma multiplicidade de formas biológicas de conhecer, existir e sustentar a vida, que herdamos para nossa sobrevivência no planeta. Por exemplo, assim como a água é uma fonte natural de vida, igualmente natural é a nossa sede. Sede é um fato sensorial, um sentimento bio-lógico, uma memória única e inalterada que conecta a nós, animais terrestres, separados da água, com a sobrevivência e logo com a água. Em suma, a sede, assim como todas as nossas sensações naturais, tem uma razão de ser.


Pesquisas acadêmicas validam que psicologicamente e fisiologicamente, a natureza interior dos seres humanos consiste de uma variedade de sensações naturais. Pelo menos 53 sensações naturais foram identificadas nas pessoas. Entre estas, estão sentidos adicionais como cor, sede, linguagem, gosto, cheiro, excreção, pertencer a um grande todo, espaço, distância, forma, temperatura, tato... A sensação de cada sentido é única. Note especialmente que o raciocínio, a linguagem e a consciência são sentidos naturais que desempenham funções de sobrevivência na natureza. Note também, que de alguma forma, cada sensação permeia todo o mundo natural, incluindo nossa natureza interior.


As atividades propostas por esta abordagem têm por objetivo a descoberta, conscientização e exploração dos sentidos e sensações naturais do ser humano através de técnicas de sensibilização pelo contato reintegrativo com áreas verdes e outras entidades naturais. Nossa busca é auxiliar o homem no desenvolvimento de uma atitude consciente e responsável em sua relação com o meio ambiente, a qual emerge da percepção de si mesmo como sendo uma entidade não alheia e nem separada da natureza. Não somos, enquanto espécie, mais importantes para a vida do planeta do que uma planta, um peixe ou mesmo de uma bactéria. Nossa impressão de superioridade, enquanto sapiens sapiens, provém de um processo de desidentificação com a ordem natural do planeta, que existe em coesão. Esta atitude de nossa espécie está explícita na própria geografia das cidades nas quais nos concentramos, na artificialidade dos estímulos como cores, aromas, texturas e sabores, e no nosso ‘mundo à parte’, construído e organizado por nós mesmos, os seres humanos.
Somos, entretanto, ainda que não totalmente conscientes, entidades interdependentes, portadora de uma sabedoria auto-reguladora, legítima, congênita e compartilhada com toda a biosfera do Planeta Terra.




Rogério Meggiolaro – Instituto Neo-Humanista




Michael J. Cohen – A Field Guide to Connecting With Natures - World Peace University – Oregon, USA


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